It could happen to you

Chet Baker é desses sentimentos que o coração não explica. Amor? Não sei dizer. Descobri esse disco, o it could happen to you, há pouco mais de um mês, e o que sinto é um estranhamento que de alguma forma me encanta. Definitivamente, eu não gosto da maneira como ele canta. Mas há algo nele, há algo de sublime nele que toca profudamente o meu coração. Tolstói tinha uma relação perturbadora com a música. Era como se ele próprio fosse um instrumento e a música tocada em seu corpo criava ondas vibratórias que movimentavam os cantos mais recônditos do seu ser. Era como se a música tocasse em algum vespeiro dentro dele. Tirava-o do eixo. Já vi gente cantar perfeitamente, com a questão técnica impecável, dentro do padrão considerado correto, mas que não me transmitia absolutamente nada. Nada. Isso me faz lembrar aquele filme Cisne Negro, quando a Nina tenta seduzir o professor a escolhê-la para a protagonista. E então ele rebate com a questão de ela ser tão rígida consigo mesma, de exigir um alto grau de perfeccionismo, que acabava ofuscando sua essência, sua leveza, o que vem de dentro da alma. Que é o mais importante. É sempre o mais importante. Não há livros, não há habilidades que possam substituir a beleza, a sutil beleza de ser quem a gente é. Aproveitando o nome do disco, isso poderia --e deveria sempre-- acontecer com você, comigo, com todo mundo. Porque é o que realmente importa. É o que realmente encanta.

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