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Mostrando postagens de abril, 2009

short azul

O seu short azul tem um tom de tristeza. E eu sinto isso toda vez que quero mais do que estar com você. Quero ser.

o dom do balde de água fria

Não é qualquer pessoa que tem esse talento. Sempre que as coisas florescem e o mundo parece se mudar do azul para o cor-de-rosa, vem o dom do balde de água fria. É um poder que, diferente dos outros, não é nato. Mas adquirido. Com ele, você consegue esfriar a brasa e a fogueira, e transformar tudo num gelo: sem gosto, sem cheiro e que até dói no contato com a pele. Pra completar, o processo é praticamente irreversível, já que a fonte de calor geralmente seca. O dom do balde de água fria é o dom de gente besta.

para exercitar os chacras

O dedo que aponta para a lua não é a lua. E o dedo que aponta na sua cara?

da velha fralda na boca ao lenço nos olhos

É como se meu coração estivesse dentro de um pote desses que, depois de aberto, deve-se consumir no máximo em cinco dias. E passam-se cinco, dez, 30, 50 dias e ele continua ali, lacrado, protegido do sol e do calor para que não estrague antes do tempo. Dessa liberdade, não sinto o gosto.

toilette

O cidadão estava no trabalho e resolveu ir ao banheiro. Ele procurou ser rápido para que ninguém percebesse sua falta nem desconfiasse de nada. Mas na hora de borrifar o famoso bom-ar, ele não viu que a saída de ar estava voltada para a sua camisa. Aí não teve jeito. Todo mundo sentiu sua ausência.

valentina

Valentina gostava de tomar remédios. Mas não qualquer remédio: tinha que ter cores. Gostava de tomar pílulas coloridas. Na suíte dela, entre o quarto e o banheiro, havia um pequeno armário, instalado especialmente para guardar muitas delas, das mais diversas cores. Ali era o seu lugar preferido na casa. Ela vivia em função do horário de tomá-las. E por isso tudo o que fazia era tensão. A leitura de um livro era alternada à leitura do relógio. Na cozinha, a comida era feita em tempo cronometrado. Se recebia visitas, ficava inquieta no sofá, tinha pressa em conversar e ficar sozinha. Nada, absolutamente nada a distraía nem diminuía a angústia que sentia. Ela passava o dia inteiro com a cabeça voltada para o carrilhão da sala, torcendo para que os ponteiros indicassem o horário de encontrá-las. Se estava em outra área da casa, não era difícil imaginar que o relógio havia tocado, tamanha era a sua vontade de ganhar um pouco mais de cor. Valentina não era como as outras meninas da sua idade...

tamara, tomara

Tomara que você não se perca na bagunça do seu quarto. Tomara que você não pegue birra de espelhos. Tomara que o uniforme da escola não seja mais importante do que a escola. Tomara que seus sorrisos não dependam de ninguém. Tomara que você não perca fichas e nem deixe que elas demorem para cair. Tomara que você não atrapalhe a si mesma. Tomara, Tamara.

aos olhos dela

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Cuidado. Tudo o que você disser pode se virar contra você e transformá-lo em monstro aos olhos dela. Ela fica recapitulando cada vírgula, cada porém, cada por que do que vocês conversaram, para tentar descobrir se existe algum vácuo de maldade ou de antiamor por ela. Cuidado até com o que você está pensando neste momento. Porque depois de relembrar cada palavra dita, ela dá início às suas interpretações malucas e achismos inacreditáveis, dignos de uma imaginação fértil, mas nada saudável. Cuidado para onde você está olhando e a maneira como faz isso. Tudo pode soar como descaso. Jamais esqueça: ela tem o poder de ler pensamentos e adivinhar sentimentos - sempre para o pior deles. Sim, ela sofre. Sofre muito. E não porque é masoquista ou por achar que o mundo não mereça seu sorriso. Mas porque assim, ela pode se proteger da dor. *Crédito imagem: Marcel Ebner.