textos do tamanho da sua paciência

Vejo você vir vencendo voltas valiosas. Vejo vozes, volumes, vitórias. Vejo vinhos vibrantes, vaidosos, valorosos. Vejo víboras voando, venenos vazando. Vejo vermes, vômitos, vertigens vagando vis, vencidos. Vejo ventura. Vejo vontade. Vejo vocação. Vejo verdade. Vejo você valente. Vai vendo, vai vendo.

Todo dia pela manhã ela toma um banho quente e se veste de saudades. E então, sai por aí, combinando sua calça preta com a blusa meia-estação da mesma cor. E sai à procura. Ela procura nos pontos de ônibus e em cada trem de metrô. Procura nas ruas escondidas, na banca de jornal, no supermercado. Procura em cada canto um rastro, uma pista, algum resquício do que sobrou dela mesma. Cadê?! Ela não reconhece mais nada. Não reconhece pessoas, nem lugares, e o mundo é apenas uma grande bola azul que só faz deixá-la ainda mais zonza. Veja, está escurecendo. É de noite que tudo finalmente se esclarece. E ela finalmente pode chorar.

- mmMmmm? - Quê, amor? - mmmmMmmmMmmm... - Não, não estou entendendo, querido... - mmmmmmMmmmmMmmmMmmm!!!!! - Roberto, tá na hora de você cortar esse bigode! *Crédito imagem: Marcel Ebner.

Troco minhas 24 horas por 48 horas. Embora bem usadas, estão em ótimo estado. Troco também uma porção de pensamentos por um bocado de mente vazia. Além disso, estou doando alguns abraços, para que, assim, talvez consiga diminuir um pouco a minha vontade de abraçar o mundo. E mesmo que você não possa me vender nem doar nem trocar o que ainda não inventaram, que pelo menos me empreste o seu amenizador de saudades.

Ora, por que você vem mas fica com a cabeça em outro lugar? Engraçado é que você chega rápido, cheio de vontade, mas logo tudo se torna superficial demais. E eu acordo sempre com a sensação de que nada aconteceu. Às vezes parece até que eu nem te vi. Estou com saudades, sabia? E não é romantismo não, estou sentindo falta mesmo. Essa sua indiferença está me matando. No trabalho, já não produzo como antes. Ando irritada, ansiosa e já nem sei mais o que é paciência. As horas passam pesadas. Só quando o dia finalmente acaba é que eu tenho a esperança de que tudo vai ficar bem de novo. Sono, por favor, volte a ser como antes. Volte a ser intenso e profundo. Volte de verdade pra mim.

Porque, ainda assim, você pode marcar um gol.

Ande alguns bons quilômetros a pé, mais outros ótimos minutos, sobre um salto de 12 cm, capengando pra direita e sorria: você não está na Bahia, mas está na rodovia.