Queda livre
Ana Martins Marques escreveu: “Colecionamos objetos, mas não o espaço entre os objetos / Fotos, mas não o tempo entre as fotos / Discos, mas nunca o pequeno intervalo de silêncio entre duas canções”. E eu tenho a impressão de que a vida é exatamente isso, esse ínterim. É a pausa dos encontros. O repouso (não o sono) entre o fim e o início do expediente. E quando não sabemos o que fazer com essa abertura, o que sentimos é um vazio imenso. Um buraco profundo no estômago. Uma fissura dolorosa no peito. E em vez de olhar pra esse espaço, fechamos os olhos. Aí, feito cegos, buscamos desesperadamente preencher esse vácuo de dor tateando coisas, tateando pessoas, até conseguir apoiar em algo convenientemente confortável. E assim, distraídos de nós mesmos, vamos vivendo.
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