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Mostrando postagens de agosto, 2016

Dalton, K.

Quando conheci Karen, ela tinha uma choro contido na voz. Sua voz era melodiosa, feito barulho de chuva na madrugada. Havia muita dor para cantar. Por isso ela cantava tanto. Tão lindamente.

Calma

Você desconta no trânsito. Desconta no porteiro do prédio. Desconta na comida. Desconta no cigarro. Desconta na bebida. Desconta na sexta-feira. Desconta na segunda-feira. Desconta, desconta, desconta. Calma! E você? Dá um desconto pra você.

Pequenas felicidades

Só uma coisa. Algo simples. Aparentemente banal. Mas que pra você seja importante. Faça pelo menos uma coisa assim no seu dia. E já será uma conquista. O suficiente para animá-lo, encorajá-lo, fortalecê-lo.

Drama

À noite, quando eu chego em casa, tenho meus quinze minutos de drama. O drama de precisar tirar imediatamente tudo o que esteve grudado em mim ao longo do dia. Removo os brincos e o relógio. Troco o sapato pelo chinelo. Jogo longe o sutiã e a calça. Acendo todos os abajures e, por fim, ligo a tevê. Gosto de me sentir livre, de ver minha casa iluminada, de ouvir que não estou sozinha. Vou para a cozinha. Preparo algo para comer. Com o prato em mãos, volto para a sala. O tempo do jornal dura o tempo de eu comer a refeição. Descanso por alguns minutos. Então, me levanto e começo meus novos quinze minutos de drama. O drama de precisar arrumar tudo o que eu desarrumei.

Só algumas horas

De tudo o que te irrita, te entristece, te angustia. De tudo o que te consome, as paixões, os desejos, as vontades. De tudo o que te incomoda, a monotonia, a letargia, a disritmia. Tudo, absolutamente tudo, dura apenas algumas horas. Só algumas horas. Não são horas infinitas. São apenas horas. Contadas no mesmo beat, na mesma velocidade, no mesmo compasso das horas boas. Aliás, e o que são as horas boas, senão o estar presente, integralmente presente, na hora exata, neste instante?

Maturidade em rimas

Quando criança, esperança. Quando adolescência, impaciência. Quando adulto, autoindulto. Quando idoso, ocioso.

Peso leve

O piano já não é mais de cauda. A cruz parece feita de mdf. E o mundo virou uma grande bola de pilates. O peso nas costas agora é a criança que passeia sentada nos ombros. Leve, livre. Nossa única obrigação é mantê-la ali, equilibrada, segura o suficiente para não cair.

Boiando na vida

Muitos somos como a garrafa vazia na superfície suja do mar. Boiamos profundamente solitários, adormecidos no balanço das ondas. Ondas de desejos que vão e que vêm sem parar. E que, intimamente sabemos, não nos levam a nenhum lugar. Boiamos em nossa própria vida. A gente se deixa levar. Ou vamos levando, como dizem por aí. Isso dá enjoos. Enjoa muito. Mas será que, como garrafas no mar, estamos assim tão vazias? Veja bem. Há um papel dentro. Uma mensagem. É pra você. E olha! Foi você mesmo quem escreveu. E aí, o que está escrito?

Não há Sonrisal que cure

Vida vazia dá azia.