textos do tamanho da sua paciência

Animais ruminantes são aqueles que remoem os alimentos que voltam do estômago à boca. É o caso dos bois, das girafas, dos camelos e dos veados. Mas por uma ironia evolutiva, nós, humanos, seres evoluídos que somos, lançamos mão da prática com uma maestria de dar inveja a toda geração bovídea e cia.: temos o hábito de ruminar pensamentos. Somos capazes de ficar pastando horas, dias, anos a fio em nossos pensamentos, remoendo erros, problemas e preocupações que só fazem nos deprimir e envelhecer. Se somos tão bons em viradas de ano, por que não sermos também em viradas de dia? Bola pra frente que atrás ficou para trás.

Na liquidação do ano velho, saudade saldará. E tudo a preço de graça, que é pra ninguém comprar.

Realmente nos tornamos pessoas melhores na época de natal. Afinal, é preciso ter paciência para encarar as lojas lotadas de pessoas e de músicas natalinas. Nesse período também passamos a refletir mais, já que decidir sobre o que dar de presente é algo que inspira grandes reflexões. Somos mais educados do que nunca: sorrimos e agradecemos até pelos presentes menos desejados. A solidariedade é aflorada e estamos sempre prontos a ajudar a abrir mais uma garrafa de vinho (ou a servir logo a ceia). Mesmo de um jeito torto, há algo de legítimo nisso tudo: a vontade de respeitar a tradição e o espírito do natal. E ainda que todo ano seja igual, é impossível ficar indiferente.

Já perdi as contas de quantas vezes aquela mesma música tocou, num looping inexaurível de repetições seguidas. Era como se fosse a única trilha de um filme de uma cena só. Era muita paixão para não haver intensidade também na música. Os pensamentos eram repetitivos. Os olhares eram repetitivos. O assunto era sempre o mesmo. Inesgotável. Incansável. Indormível. Indomável. Incontestável. Inquietante. Intrigante. Insuportável. Impossível.

O sentido que há nas coisas nunca é onipresente: para estar em um lugar é preciso não estar em outro. E então, assim, algumas coisas só começam a fazer sentido depois que outras o perdem. Mas e no caso do amor? Se é ele que dá sentido às coisas, o que acontece quando ele perde o sentido?

Só uma noite. Só uma noite e nada mais. Por uma noite, tudo o que é e parece certo deveria adormecer e por algumas horas ali ficar, quietinho, inerte, alheio ao mundo. Até a culpa, que está sempre em vigília, descansaria por um momento. Nesta noite, só eu e esse meu coração incompreensível estaríamos acordados à espreita do desejo, à espera do seu beijo.

Nada existe de mais alegre para um coração do que chorar por gratidão.

Amadureça, mas não endureça. Nem amoleça. Seja como a fruta madura, que não é dura nem muito mole, porque está no ponto - naquele, de equilíbrio natural, o único capaz de fazer bem e feliz a todos que provarem seu sabor agradável de tempo perfeito.

Em nenhum outro dia somos tão dependentes de delicadezas e gentilezas como às segundas-feiras. Às segundas estamos todos à flor da pele, frágeis, sensíveis, melancólicos. Por favor, não grite, fale pouco, se for buzinar, que seja suave (se é que isso é possível). Às segundas-feiras, a humanidade inteira está de TPM.

"O amor é um processo de libertação permanente." Li esta frase hoje em um texto compartilhado no Facebook. Nada mais lindo para uma manhã chuvosa de segunda-feira. E nada mais verdadeiro para uma rede social. 

um coração frouxo não é o coração apertado que deixou de estar. é o coração que se esqueceu de quem verdadeiramente é.

terei,  serei eu, rei?