textos do tamanho da sua paciência

Toda vez que chove forte, fecho a janela e cuido para que tudo que é importante pra mim esteja bem protegido. Mas às vezes, mesmo fechando tudo, os respingos acabam passando pelas frestas e molhando o que não se pode molhar. Hoje foi um dia desses. Mas faz parte da natureza o tempo virar desse jeito. O problema é ser pego desprevenido. É ver os desavisados saindo de casa sem guarda-chuva ou capa plástica, entrando na chuva pra se molhar. E durante o temporal, só se conseguia ouvir a água matando a sede de não se sabe o quê nem por que, e sentir uma ventania forte, de derrubar qualquer um.

Sempre que eu achava que tinha te encontrado eu dormia. Ou acordava. E num tempo que se desprendeu das minhas mãos, eu não conseguia mais enxergar você. Fui embora. Sem esperas, sem demoras. À busca de não-sei-o-quê encontrei com o nada. Dessalgado. Resolvi ligar a lanterna. Insensível. Frágil. A ausência sempre quebra alguma coisa.

Ela não gosta de passar vontade, mesmo sabendo que vontade passa. Talvez a dificuldade de lidar com nãos é o que a tem feito dizer muitos sins para os seus impulsos. E nem sempre o que dá prazer faz bem pra gente. Ela sabe disso. Sabe, por exemplo, que um dia vai ter uma vontade absurda de embrulhar sua alma para presente para aquele menino. Mas os sonhos dela, de todos os tamanhos, podem não servir pra ele. E não há nada a fazer, porque amor não se troca num prazo de 30 dias, nem aceita devolução. Aí, vai dizer sim à vontade de chorar e se casar com a dor.

O tempo está levando o que eu levei muito tempo para descobrir. Eu queria multiplicar você e os nossos sonhos. Passei a viver as lembranças e esquecer o presente. Passei a programar o futuro sem me dar conta do passado. Passei a nos ver em todos os romances. E passei muito tempo sozinha. É que não se vive pela metade. Nem só de esperanças. Na tentativa de ser feliz, sofri. Porque ainda que exista amor, insistir em um erro nunca será sinônimo de felicidade.